O Aconchego Carioca foi o pontapé inicial para que a Praça da Bandeira, na zona Norte do Rio, se tornasse um point boêmio. E a responsável por isso foi Kátia Barbosa, carioca, filha de nordestinos, mulher porreta que valoriza a comida brasileira e adora um botequim. Tudo começou há 15 anos. Rosa Ledo e o marido – irmão de Kátia – abriram um boteco na rua Barão de Iguatemi. Com a separação do casal, Kátia assumiu o lugar do irmão, e criou o famoso bolinho de feijoada. A partir daí, foi só sucesso. O Aconchego criou asas e já chegou ao Leblon e à Barra e como ela adora desafios, criou, na mesma Praça da Bandeira, o Kalango Bar, E a premiada cozinha de Katia Barbosa é, hoje, patrimônio carioca.
De velha, agora, a adega só tem o nome. Apesar de manter o compromisso com o pé-sujo, a Adega da Velha passou por reforma no espaço e mudança no cardápio, mas no teto permaneceram as folhas de louro, sinos e cabaças. Também foi mantido o letreiro onde se lê: “O bar do Chico / O rei da carne de sol”, o que deixa claro o carinho dos novos donos, Sergio e Elaine Rabello, pelo cearense que ao longo de 50 anos esteve à frente do que os boêmios batizaram de “melhor botequim nordestino da Zona Sul”. O novo cardápio é bem menor mas a qualidade é inigualável. E tem as cachaças, nem todas nordestinas, e o chope gelado bem tirado, como gosta o bom bebedor.
A boemia carioca se assustou com o fechamento do Adonis em fevereiro, principalmente o cearense João Pedro, que há oito anos era freguês da irresistível chopeira de 70 anos, com serpentina de 90 metros, socada a gelo, cuja torre ele garante ser “a mãe de todas as outras”. Inconformado, comprou a casa, remodelou o ambiente, e em junho reabriu as portas, com salão refrigerado, banheiros modernos e elegantes, com direito a espelho de cristal e um bom fado como música de fundo. O cardápio com as delícias de Portugal é o mesmo, acrescido de apetitosas novidades. Mas para que não haja dúvida de que a tradição está mantida, acrescentou no letreiro a palavra “Velho”. E lá está, o Velho Adonis, na mesma esquina da Rua São Luiz Gonzaga, de portas e braços abertos para receber a sua fiel clientela.
Valéria e Mariana Resende, mãe e filha, eram frequentadoras assíduas e muito amigas das sócias do Aconchego Carioca, Kátia Barbosa e Rosa Ledo. Em 2009 o sucesso do Aconchego exigia mais espaço físico e Katia e Rosa resolveram mudar para o imóvel do outro lado da calçada, na mesma rua Barão de Iguatemi. Com a mudança, Valéria e Mariana resolveram assumir o ponto e enveredar por uma atividade inteiramente diferente: donas de bar. Como criatividade é o que não falta às duas, batizaram a nova casa de Bar da Frente. Com identidade e luz própria, servindo uma comida de tempero caseiro e com criações irresistíveis, como o porquinho de quimono, o fondue de coxinha e o bolinho de arroz de puta rica, o sucesso estava garantido. Hoje, o Bar da Frente integra a agitada vida boêmia da Praça da Bandeira.
Ao chope de primeira, tirado com uma serpentina de 60 metros, e caipirinhas feitas com frutas naturais, some-se o bolinho de aipim com camarão e catupiry, mais os sanduíches de pernil ou carne assada, e você vai aproveitar uma das muitas maravilhas que o Rio oferece. O Bracarense foi fundado em 7 de abril de 1961 pelo português, natural de Braga, Arnaldo Thomé. Situado a duas quadras da praia do Leblon, a partir de 2000 passou a ser administrado pelo neto do “seu” Arnaldo, Kadu Thomé. Desde os anos 1970 é comum ver a calçada da rua José Linhares cheia de gente, em pé ou sentada, com um copo na mão e um petisco na outra. Possivelmente, pela proximidade com a praia, se tornou tradição uma paradinha para um chope antes ou depois do mergulho. Afinal, como disse o escritor e cartunista Jaguar: “Intelectual não vai à praia. Intelectual bebe.” E quem haveria de contrariar tão absoluta verdade?
Com boteco no caminho fica difícil chegar na praia. E se esse boteco oferece cerveja ou chope geladíssimo, dependendo da vontade do freguês, e se é o típico templo da boemia carioca, com mesas na calçada e gente em pé, copo na mão e uma patanisca de bacalhau na outra, fica mais difícil ainda. “Na Rua Hilário de Gouveia, em frente à 2ª DP, aberto dia e noite, está o bar Pavão Azul. Lá, em homenagem e em respeito à vizinhança, as noites e as madrugadas são vividas na santa paz de Deus”. Assim começa uma crônica do jornalista Antonio Maria, no início dos anos 1960. Pena que Maria não viveu para conhecer as irmãs portuguesas Vera e Beth Afonso, que nos anos 1970 invadiram a pequena cozinha por trás do balcão para servir receitas da família. O sucesso foi imediato e hoje, quase 50 anos depois, o Pavão cresceu e imponente ocupa boa parte do quarteirão, recebendo pessoas do mundo inteiro. Da patanisca, Beth Afonso não dá a receita, mas do sucesso ela garante: “fazer as coisas com carinho e amor".
No bucólico bairro de Santa Teresa, o Bar do Mineiro é refúgio para todas as tribos do Rio, o que não impede que esteja de braços abertos aos turistas. Com o jeitão clássico dos antigos botequins, quadros nas paredes, fotos de artistas, programação cultural e garrafas nas prateleiras,onde se acumulam também bonecos, o bondinho e até uma caveira,a cozinha caseira destaca o clima descontraído do lugar, parada obrigatória para degustar um pastelzinho recheado de feijão, um frango com quiabo ou a tão falada feijoada.. O Bar do Mineiro é uma empresa familiar e surgiu de situação inusitada. Diógenes Paixão, mineiro de Carangola, apaixonado por arte, colecionador e marchand de Alfredo Volpi, costumava receber amigos em casa, entre eles Volpi e Burle Marx, fãs incondicionais da feijoada do irmão cozinheiro de Diógenes. “Meu irmão perdeu o emprego, eu queria abrir um negócio, então, em vez de uma galeria de arte, abri um bar”. E lá se vão 30 anos. Entre os frequentadores do Mineiro, hoje, se destacam profissionais liberais, artistas, produtores e turistas, com idades entre 20 e 50 anos. Uma jovem boemia que vai se formando e apreciando as delícias da cozinha mineira e adjacências, tudo regado a uma boa cerva gelada.
Os primos Felipe e André Quintans são descendentes de espanhóis, com tradição no comércio, o que os levou a realizar o desejo de seguir as pegadas dos pais. A princípio pensaram em montar um bar em Santiago de Compostela, berço da família, mas acabaram comprando o antigo bar Rio Brasília, que eles frequentavam desde pequenos. A nova casa passou a chamar Bar Madrid e se tornou uma referência da Espanha na Tijuca, o que é facilmente percebido pela decoração e pela comida, cujas receitas começam a ser testadas em casa e só depois vão para o cardápio. Lá não tem chope, mas a cerveja está sempre geladíssima e as batidas são famosas, como as de coco, maracujá, gengibre e a maracugibre. Todos os frequentadores são considerados especiais, mas o Madrid tem uma pegada política marcante, com foto de Leonel Brizola na Parede e o cantinho Mariele Franco. Além disso, uma vez por mês o historiador Luiz Antonio Simas dá uma aula aberta ao público e são promovidas palestras sobre Saúde. A casa não tem televisão, mas sempre rola uma música à noite, afinal boêmio que se preza gosta de um som.
As figuras rotundas do colombiano Fernando Botero foram inspiração para os amigos Bruno Vaz e Bruno Magalhães criarem o Bar Botero, que mistura a cozinha tradicional com criação autoral e rapidamente conseguiu se tornar um dos botecos mais charmosos da cidade, com muita história para contar. Em setembro do ano passado a prefeitura fechou o Mercadinho São José, endereço primário do Botero, e a dupla mudou para uma casa grande, na rua em frente. Problemas de segurança e outros contratempos os levaram a encerrar atividades na área e um novo Botero foi recém inaugurado na Tijuca. Mas fica a promessa de que em breve teremos outro em Laranjeiras. Eles dizem: “Somos empreendedores cariocas. Acreditamos que a solução para o Rio de Janeiro passa pelas pessoas e são elas que nos dão força para seguir em frente. Juntos somos capazes de escrever um novo capítulo”. E nós acreditamos, assim seja!
Sem qualquer modéstia, o Gracioso se anuncia como a mais charmosa casa boêmia da cidade. Tudo começou há mais de um século com o português Veiga e o Gaiato da Veiga. A história mudou em 17 de abril de 1958, quando o casal, Armindo e Delfina, assumiu a casa rebatizando-a como Gracioso. O tempo passou, e o Gracioso se tornou ponto de encontro de muitos e interessantes personagens do entorno da Praça Mauá. Em 2002, ganhou novos donos: os espanhóis Constantino e Carmen Iglesias, mãe e filho, que deram continuidade à excelência da comida, da cerveja e das cachaças artesanais, garantindo, assim, a fidelidade dos antigos frequentadores. Em 2011 Tino e sua mãe levaram um grande susto com um incêndio que quase destruiu o centenário prédio de dois andares. A reforma durou dois anos, mas preservou a parede de pedras aparentes, que dá um especial charme arquitetônico ao local. E tudo voltou a ser como era antes, com boa comida, cerveja gelada e cachaças magníficas. No segundo andar um boa roda pra quem gosta de samba e espaço para lançamento de livros, reuniões e festas. Temos que reconhecer: charme não falta ao Gracioso.
O cinquentenário Bar Opus mudou de dono mas manteve o cardápio tradicional, com sanduíches de pernil e carne assada, que podem ser servidos com molho do jeito que o freguês quiser. Além disso, você pode acrescentar queijo e abacaxi, salaminho, calabresa ou tender. É só sentar no banquinho do balcão e ir montando o seu sanduíche, que pode ser acompanhado por chope claro ou escuro, cervejas artesanais da casa e batidas de limão ou maracujá. Se, por acaso, você estiver num regime de evitar carboidratos, pode dispensar o pão e pedir uma porção para petiscar. De qualquer forma é uma excelente pedida pra quem trabalha ou simplesmente passa pelo Centro da cidade.
Os amantes de boteco estão inconformados com o fechamento do Original do Brás. Inaugurado em dezembro de 2004, em Brás de Pina, Zona Norte do Rio, pela família Garcia, o boteco era especializado em petiscos e cerveja geladíssima. Só abria à noite e, vez em quando, dava para rolar um samba ou um chorinho. Nos fins de semana, aquela feijoada inesquecível. O pai, Zé Carlos, e o filho, Junior, cuidavam do salão, e a mãe, Zilma, da cozinha. A criação dos petiscos era coletiva mas só iam para o cardápio depois de aprovada pelo cliente. Em 2015, numa homenagem ao ilustre e assíduo frequentador, Luiz Carlos da Vila, abriram uma nova casa na Vila da Penha. Ao longo desse caminho, conseguiu ser o boteco mais premiado do Rio, e era gostoso de se ver a vizinhança correr para comprar o jornal na banca em frente ao Original, toda vez que ele vencia mais um concurso gastronômico. Há três anos, o Original, de Brás de Pina, deixou de existir. Ficou só o da Vila da Penha, que agora também fecha as portas. À frente dos impacientes frequentadores, o compositor Carlos Caetano apela ao coração da família: volta Original, estamos te esperando.
A história do Bar Urca começa no longínquo ano de 1939, com um austríaco e um alemão. Com a entrada do Brasil na guerra e as hostilidades pela origem dos seus fundadores, acabou sendo comprado por portugueses e mantém a tradição da cozinha lusa até hoje. Mas o Bar da Urca se tornaria um símbolo da “boemia e gastronomia popular” a partir de 1972, com a chegada da família Gomes à direção da casa. O primeiro foi Armando, português do Vizeu, que trazia vasta experiência à frente de bares do Centro e da Zona Sul carioca e que se manteve no comando por 40 anos. Em 1988, Armando Filho se juntou ao pai, em 2000, chegou Armando Neto e, por último, o caçula Rodrigo, que, atento às modernidades administrativas, levou o Bar Urca ao universo digital e das redes sociais.Os limites do Bar Urca não se restringem ao balcão e à calçada, como a maioria dos botecos do Rio. Ele atravessa a rua e se instala na mureta da Urca, um centenário patrimônio da cidade, onde centenas de pessoas, diariamente, apreciam uma bela paisagem e um incrível por do sol, tomando uma cerveja geladíssima e se deliciando com irresistíveis petiscos.
O angu veio para o Brasil com os negros africanos escravizados. Prato forte, suculento e de alto valor nutritivo, o angu foi logo integrado à culinária nacional. Em 1955 o português Gomes percebeu que vender o angu em carrocinhas podia ser um bom negócio. Foi um sucesso. Dez anos depois, o filho, João, e o amigo Basílio Moreira, resolvem expandir o negócio e por mais de duas décadas as carrocinhas “representaram um democrático espaço de convivência de ricos e pobres, universitários, prostitutas, apontadores do jogo do bicho, artistas e intelectuais. O Angu do Gomes se transformou num símbolo de resistência do Rio Antigo.” Hoje, o Angu do Gomes é servido em restaurante próprio, naquele mesmo lugar onde o mercado negreiro se transformou em centro da boemia, unindo boa comida à boa música, na mesma proposta de recuperar a memória gastronômica, a identidade e a cultura do Rio de Janeiro.
Armazém São Thiago nasceu em 1919 pelas mãos do espanhol Jesus Pose Garcia. Era um lugar sofisticado onde se vendia azeite, vinhos, licores, compotas de frutas, cervejas, biscoitos, frutos do mar e cereais. Lá não faltava o tradicional “caderninho do fiado”. O crescimento dos supermercados, nos anos 1970, atingiu os armazéns em cheio e muitos fecharam as portas. Seu Gomez, sobrinho neto do fundador, acostumado a receber os fregueses, não teve dificuldade de mudar de ramo, mantendo móveis e utensílios, o que faz com que o “Bar do seu Gomez” pareça um botequim dos velhos tempos. Hoje, o Armazém São Thiago é um dos botecos mais badalados de Santa Teresa, famoso por seus variados bolinhos e carta de cachaças.
Rosi Coelho iniciou seu caminho de empresária quituteira em Portugal, onde teve dois restaurantes especializados e premiados como um dos melhores do país em comida brasileira. Ao voltar para o Brasil, em 2005, com a experiência do tempero português, abriu o Pontapé num pequeno espaço para 50 pessoas na Praia da Ribeira, na Ilha do Governador. O lugar era decorado com camisas de futebol, e cardápio de encher os olhos dos apreciadores de um bom boteco. Sucesso imediato. Era preciso encontrar um novo espaço e Rosi mudou para um casarão de 1938, que lhe trazia afetivas lembranças do tempo em que seu pai ali residira. A nova casa herdou o cardápio do boteco antigo com delícias em homenagem a personalidades, como o bacalhauzinho da Dercy e a carne seca empanada. Os saudosos fregueses do Pontapé vão poder apreciar essas delícias no BTC.
O Aconchego Carioca foi o pontapé inicial para que a Praça da Bandeira, na zona Norte do Rio, se tornasse um point boêmio. E a responsável por isso foi Kátia Barbosa, carioca, filha de nordestinos, mulher porreta que valoriza a comida brasileira e adora um botequim. Tudo começou há 15 anos. Rosa Ledo e o marido – irmão de Kátia – abriram um boteco na rua Barão de Iguatemi. Com a separação do casal, Kátia assumiu o lugar do irmão, e criou o famoso bolinho de feijoada. A partir daí, foi só sucesso. O Aconchego criou asas e já chegou ao Leblon e à Barra e como ela adora desafios, criou, na mesma Praça da Bandeira, o Kalango Bar, E a premiada cozinha de Katia Barbosa é, hoje, patrimônio carioca.